terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Na beira do lago – minha relação e “esgotamento” com a música

Este texto tem tudo a ver com o ultimo show da Pollaris no ano. Show este que de longe foi o melhor da história da nossa banda. Também tem total relação com o processo de criação e adaptação de cada música e com cada som e acorde executado nos últimos meses ao lado do meu amigo e companheiro de banda Paulo Henrique Lopes.

  
De uns tempos pra cá, minhas experiências com a música estão se tornando cada dia mais "esgotantes". A maneira que emprego a palavra “esgotante”, de certa forma, chega até a me assustar, pois não sei dizer se tudo que se esgota pode se restaurar a ponto de poder ser esgotado novamente (o que é a minha expectativa).

Minha relação com a música sempre foi muito próxima. Eu até conseguiria recordar o que ouvia em cada época e descrever diversos momentos apenas a partir da minha memória musical, quase como se a musica gerasse em mim uma memoria auditiva sólida. Entretanto, não consigo dizer quando exatamente comecei a ter uma relação de aprendizado e crescimento mais orgânica com a música. Acredito que essa relação não surgiu apenas quando comecei a tocar violão, que seria a percepção e o material se fundindo, penso que ela surgiu muito antes.

Sabe aquela coisa de observar um solo e achar que sabe fazer igual? Acho que todo musico já pensou "eu conseguiria reproduzir isso!" sem ao menos saber o tom do acorde tocado. Tenho até hoje esse maldito pensamento... Talvez seja porque minha real intenção é sempre transmitir a mesma emoção que senti ao ouvir o solo pra quem estiver ouvindo-o tocado por mim... E um belo solo ou uma música boa pode transmitir uma gama muito diversa de sentimentos e sensações que podem ser desde felicidade, euforia e motivação, até mesmo raiva, tristeza ou fé.

As experiências que tive com a música podem ser colocadas em diferentes níveis de profundidade e interação, organizadas de tal forma que possa se perceber a falta de equilíbrio que sempre tive em relação ao fazer, a percepção e ao sentimento ou sensação que transmitia.

Quando comecei a tocar, meu objetivo inicial era imitar músicos e músicas que eu gostava. Mas o processo de aprendizagem - que foi muito bem orientado por sinal -, me impediu de me tornar apenas um simples imitador.

Algo engraçado foi que acabei aprendendo a teoria e a técnica musical enquanto transmitia algo através da música, algo importantíssimo no caso, a fé, apesar de eu não estar especificamente em busca de fé no momento. Na época eu buscava apenas aprender a tocar. E este aprendizado já era orgânico, porem sem profundidade, porque havia um desequilíbrio tão grande entre tocar buscando apenas aprender e ter que transmitir fé que a relação acabou por se dissolver.

Depois de certo nível técnico alcançado, uma habilidade de observação mais refinada e o aprofundamento nessa busca de entender o porquê de cada acorde, e o objetivo e funcionalidade deles, posso dizer que alcancei níveis de interação com a música muito mais orgânicos e fortes. E acho que no ultimo dia 30 consegui esgotar como nunca esse poço de sentimentos e sensações que a música causa não só nos outros, mas também em mim. Aliás, me esgotei fisicamente também, fui a exaustão com 40 minutos dessa experiência quase impossível de explicar.

A experiência do ultimo show liberou em mim uma anestesia de felicidade e uma injeção de animo que me fez ter vontade de aprofundar-me mais e mais nesse lago de sentimentos e sensações que é buscar uma relação cada vez mais orgânica com a música e com as pessoas. Ao doar todas as minhas forças pra que as pessoas se sentissem bem e vê-las em êxtase tive certeza de que estava chegando perto do objetivo que faz com que eu me surpreenda toda vez que eu me lembro daquela tarde.

Naquele dia, naquele show, senti-me na beira de um lago, e acredito que posso ir além. A busca agora é me capacitar pra ao menos lavar meus pés no oceano de sentimentos e sensações que me deixei conhecer. 

Esquece de voltar! Haha :)


*Agradecimentos: Ao amigo e companheiro de movimento estudantil Daniel Clodoaldo, que revisou o texto acima, obrigado pelo apoio! A todos que trabalham no Teatro Leopoldo Fróes, em especial ao orientador do Projeto Vocacional Adriano Matos. Família e amigos pelo suporte e companheirismo em todas as horas!
Paulo-Pollaris, 2015 Pollaris é nóiz!
Até 2015! Vlw flw!

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